por Marilia Mayorga e Vd. Matheus Macêdo | Vida Veda
Atualmente, com uma breve pesquisa na internet surgem uma série de conteúdos que prometem uma pele jovem com o uso de algum produto milagroso.
No entanto, parece ser consenso entre dermatologistas, que cultivar uma rotina de cuidado é o ideal tanto para a melhora da aparência e vitalidade quanto para a prevenção de doenças.
Mas essa não é a questão fundamental que trazemos neste artigo.
Quando nos deparamos com promessas pseudo milagrosas que sugerem que todos poderiam (ou deveriam) ter uma pele jovem, nos deparamos com diversas camadas de intenção.
Primeiro porque isso gera uma suposta necessidade de consumo.
Segundo porque permite com que o algoritmo reforce câmaras de eco e as pessoas começam a acreditar que elas não estão se cuidando como deveriam.
E isso é péssimo para a nossa relação com o corpo e com a passagem do tempo.
O Ayurveda fala sim sobre passar óleo na pele, para promover longevidade e rejuvenescimento.
Mas de um jeito bem diferente desses títulos que garantem “pele eternamente jovem” se você usar uma lista mágica de produtos.
Neste artigo, você vai entender:
– O que o Ayurveda realmente recomenda sobre oleação da pele;
– Por que óleos essenciais exigem muito cuidado;
– O papel especial do óleo de gergelim;
– O que faz sentido (ou não) quando o assunto é envelhecimento e pele.
Assista ao vídeo que inspirou este artigo
Passar óleo na pele ajuda a combater o envelhecimento?
O que o Ayurveda recomenda para a pele?
Óleo x óleo essencial: não é tudo a mesma coisa
Em primeiro lugar, um dos primeiros pontos que se confundem nos vídeos virais é a diferença entre:
Óleo vegetal (azeite de oliva, óleo de gergelim, óleo de coco, óleo de girassol etc.)
Óleo essencial (lavanda, alecrim, melaleuca, hortelã-pimenta etc.)
Sendo assim, eles não são a mesma coisa, nem de perto.
Óleos vegetais
Aqueles extraídos principalmente por prensagem de sementes ou frutos oleaginosos (como o gergelim, por exemplo).
Os óleos vegetais são gordurosos, nutritivos, relativamente estáveis e podem ser usados:
na alimentação;
como base para massagem;
como “veículo” para óleos essenciais.
Diversos estudos mostram que óleos vegetais, têm propriedades emolientes, antioxidantes e de suporte à barreira cutânea, ajudando a hidratar e proteger a pele.
Óleos essenciais
São extratos altamente concentrados obtidos por destilação ou outros métodos.
E sendo assim, para produzir poucas gotas, é preciso uma quantidade grande de planta.
Como resultado, são muito potentes e justamente por isso exigem cuidados na sua utilização.
E é por isso que as diretrizes de segurança em aromaterapia deixam bem claro:
não aplicar óleos essenciais puros na pele, sem diluição;
jamais usar em pele irritada ou lesionada;
diluir sempre em um óleo carreador (vegetal) antes do uso;
a ingestão deve ser feita sob supervisão profissional qualificada.
Dessa forma, em aromaterapia profissional, recomenda-se algo como:
– diluições de 0,5-1% para rosto (algo como 1 gota de óleo essencial em 10 ml de óleo vegetal);
– diluições de 1-3% para corpo, dependendo da área e do objetivo.
É importante consultar um profissional de saúde para entender qual a o objetivo, a substância e o seu tipo de pele.
Então, se você quer utilizar os óleos essenciais, use-os sempre com orientação adequada, os profissionais que indicamos estão no drintegra.com
O que o Ayurveda diz sobre a utilização de óleos essenciais
No Ayurveda, tendo como referência os textos clássicos, que datam de 1500 a 3000 anos, não há referências sobre o uso de óleos essenciais porque a tecnologia para produzi-los não existia.
Portanto, seu uso não segue os protocolos tradicionais, aparecendo apenas em um contexto mais recente e em práticas modernas, muitas vezes integrados à aromaterapia contemporânea.
Isso não significa que alguém os tenha “proibido” ou que eles não ofereçam benefícios.
Aliás, a ciência moderna já documentou inúmeras aplicações com efeitos positivos.
Significa apenas que eles não compõem a base da oleação ayurvédica tradicional, que seu uso, de forma stricto sensu, não segue os protocolos descritos nos Samhitas e que, para utilizá-los com segurança, a pessoa precisa de conhecimento específico em aromaterapia.
Em contrapartida, os textos clássicos descrevem em detalhes os óleos vegetais medicados (chamados taila ou thailam), apresentando formulações precisas, indicações, modos de preparo e formas de uso.
Como o Ayurveda realmente usa óleos para a pele
Antes de tudo, é importante esclarecer que o Ayurveda também utiliza grande parte das plantas que hoje são apresentadas como benéficas para a saúde da pele, seja como referência nos textos clássicos ou em abordagens mais modernas.
No processo clássico, escolhe-se um óleo base e, a partir dele, medica-se esse óleo com as plantas cujas propriedades queremos ativar na preparação, ou seja, na prática:
1. Escolher um óleo base: o mais utilizado é o óleo de gergelim (sesamum indicum).
2. Cozinhar esse óleo com plantas medicinais
3. Produzir um óleo medicado com propriedades específicas, como o cuidado com a pele do rosto, para os cabelos, para dores articulares, para determinadas doshas e tratamentos de doenças.
Um exemplo clássico para o cuidado com a pele é o Kumkumadi Tailam. Tradicionalmente, ele se prepara com uma base de óleo de gergelim, o açafrão verdadeiro (crocus sativus), chamado kunkuma, e outras plantas, como o alcaçuz – conhecido como Yastimadhu (glycyrrhiza glabra) – entre outras.
A tradição descreve esse óleo como benéfico para a pele do rosto, ajudando a melhorar o brilho, a textura e a uniformidade da cor. Hoje, ele aparece amplamente em formulações ayurvédicas de skincare, especialmente na Índia.
Na nossa Comunidade de Estudos Continuados em Ayurveda, o Nilaya, tem um curso chamado O Poder das Ervas. Lá tem diversas aulas sobre plantas tradicionais do Ayurveda e brasileiras e também um módulo sobre as 5 preparações medicinais.
O que os textos clássicos dizem sobre oleação e envelhecimento
No Ashtanga Hridayam, um dos textos fundamentais do Ayurveda, o capítulo de rotinas diárias (Dinacharya) descreve a prática de abhyanga – a oleação – como algo a ser feito regularmente.
O texto afirma que a oleação:
– ajuda a retardar os sinais de envelhecimento (jara);
– reduz o cansaço (shrama)
– e ajuda a equilibrar vata dosha, que é o dosha mais associado à degeneração, secura, dor e instabilidade.
Ou seja, fazer oleação, de forma regular, é descrito como uma prática promotora de longevidade, vitalidade e proteção dos tecidos.
Por que o óleo de gergelim é tão valorizado no Ayurveda
No Ayurveda, o óleo de gergelim é considerado o melhor entre todos os óleos, podendo ser utilizado em qualquer estação do ano. Além disso, ele é descrito como aquecedor, penetrante, estável e adequado para a maioria dos doshas, especialmente para vata.
É um óleo seguro, diferentemente dos óleos essenciais, tanto para a pele quanto para as mucosas, podendo ser usado na boca, nas narinas, nos ouvidos e na mucosa genital, com exceção dos olhos. Já a recomendação ideal é optar por um óleo de gergelim orgânico e prensado a frio.
Estudos recentes mostram que o óleo de gergelim:
– primeiro, é rico em vitamina E e em compostos fenólicos, que têm ação antioxidante e anti-inflamatória;
– além disso, pode contribuir para a hidratação e para a função de barreira da pele, ajudando a reter água e a proteger contra agentes externos;
– por fim, tem potencial para uso em formulações cosméticas voltadas para o fotoenvelhecimento e para a proteção da pele.
Reforçando aquilo que o Ayurveda vem falando há milhares de anos.
Como começar uma rotina de oleação ayurvédica na prática
Se você nunca fez oleação (abhyanga) e quer começar de forma simples e segura, o básico do Ayurveda seria:
1. Escolha do óleo
Comece com óleo de gergelim de boa qualidade (se possível, orgânico e prensado a frio).
Se tiver uma condição específica de pele ou saúde, converse com um(a) profissional para saber se é interessante usar um óleo medicado.
2. Aquecer levemente
Aqueça o óleo em banho-maria até ficar morno, confortável ao toque.
O calor suave ajuda na penetração e deixa a experiência mais agradável.
3. Aplicação
Você pode:
massagear o couro cabeludo, deixar agir por 30–60 minutos e depois lavar;
aplicar no corpo inteiro, com movimentos firmes e conscientes, por 15–30 minutos;
dar atenção especial a áreas que tendem a mais secura ou tensão (pés, mãos, lombar, pescoço).
4. Banho
Depois da oleação, tome um banho morno para retirar o excesso de óleo.
Lembre-se: se tiver alguma condição de pele específica (psoríase, dermatite, acne grave, infecções, etc.), procure orientação profissional antes de começar.
Passar óleo na pele “acaba com o envelhecimento”?
Não. Nenhum óleo, nenhuma rotina, nenhum produto é capaz de parar o tempo.
No Ayurveda, diz-se que a oleação:
de modo geral, ajuda a amenizar sinais de secura, rigidez e desgaste associados ao envelhecimento;
nesse sentido, pode contribuir para um processo de envelhecer com mais suavidade, cuidando da pele, dos tecidos e do sistema nervoso;
ao mesmo tempo, funciona como uma prática de autocuidado diário que também toca aspectos emocionais, como contato, presença e descanso.
A ciência moderna começa a mostrar que óleos como o de gergelim podem, de fato, apoiar a barreira cutânea, hidratação, proteção antioxidante e talvez retardar alguns aspectos do fotoenvelhecimento.
Mas isso está a anos-luz de prometer que “você nunca ficará velho”.
Envelhecer é um processo natural e deve ser encarado como tal.
O Ayurveda não promete imortalidade. Ele oferece ferramentas para que você viva o máximo de tempo possível, com o máximo de saúde possível.
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Perguntas Frequentes
A maioria dos profissionais de saúde que atuam especificamente no cuidado com a pele, indicam uma rotina que inclua limpeza, hidratação e proteção.
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Depende do tipo de pele, da quantidade de óleo e da forma de uso.
Em peles muito oleosas ou acneicas, o ideal é ter orientação profissional antes de fazer oleação intensa.
De forma geral, o Ayurveda considera o óleo de gergelim o mais versátil para a maioria das constituições, especialmente para equilibrar o vata dosha. Porém, casos específicos (doenças de pele, alergias, condições clínicas) exigem avaliação profissional.
Os textos clássicos descrevem a oleação como prática que retarda sinais de envelhecimento, reduz cansaço e equilibra Vata. Isso não significa impedir o envelhecimento, mas apoiar um processo de envelhecer com mais saúde e vitalidade.
A ciência moderna sugere benefícios para a barreira cutânea, hidratação e proteção antioxidante, mas não há promessa de efeito “anti-idade” absoluto.
Este conteúdo tem caráter informativo e educacional e não substitui avaliação médica, dermatológica ou ayurvédica individualizada. Nele não fazemos diagnóstico nem indicamos tratamentos para casos específicos. Se você apresenta sintomas persistentes, usa medicamentos, está grávida, amamentando ou tem condição crônica, procure acompanhamento profissional antes de mudanças na dieta, sono, exercícios ou uso de suplementos/fitoterápicos.