Se você me acompanha há algum tempo, sabe que os textos clássicos do Ayurveda prometem uma vida livre de doenças até os 100 anos, caso você siga todas as orientações deste sistema de medicina milenar. Mas esta é uma realidade que ainda estamos longe de alcançar.
De acordo com o Fórum Econômico Mundial, em 2021 existiam pouco mais de 500 mil pessoas em todo o mundo com 100 anos ou mais. Comparando com os mais de 8 bilhões de habitantes do planeta, isso representa 0,00625% da população mundial.
O que impede a maioria das pessoas de chegar até os 100 anos com qualidade de vida é, entre outros fatores, o acúmulo de anos levando uma rotina não-saudável. Isso envolve desde a alimentação até a falta de atividades físicas no dia a dia.
Mas também compreende um fator que, muitas vezes, passa despercebido por nós: a saúde mental.
Envelhecer não precisa ser sinônimo de adoecer
A nossa sociedade, desde muito tempo atrás, normalizou a ideia de que o envelhecimento vem acompanhado dos mais variados tipos de doenças.
Diabetes, osteoartrite, hipertensão, reumatismo, doenças cardiovasculares, Alzheimer, depressão… essas são apenas algumas das doenças que acometem a população mais idosa no mundo todo.
Contudo, até mesmo a medicina moderna vem chegando à mesma conclusão que o Ayurveda tinha há centenas de anos: a maioria das doenças são fruto do estilo de vida que a pessoa leva.
Então, se eu não quero ter hipertensão na velhice, preciso começar a cuidar dos meus hábitos alimentares e estilo de vida hoje. E, se eu não quero vir a ter Alzheimer, Mal de Parkinson ou depressão, também preciso começar a cuidar da minha saúde mental hoje.
É por isso que eu sempre falo que os 4 Pilares da Saúde não são opcionais. Você precisa se alimentar, dormir, praticar atividade física e se autoconhecer. Mas isso não deveria ser feito de qualquer jeito.
Para evitar doenças crônicas como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares, por exemplo, você precisa ter uma alimentação balanceada, praticar atividades físicas, ter uma rotina de sono e também observar como você se sente no dia a dia.
É para te ajudar nessa tarefa que o Ayurveda fala das rotinas diárias, chamadas dinacharya. Elas têm por objetivo te ajudar a estabelecer uma rotina saudável, que te leve a uma saúde física e mental em todas as fases da sua vida.
Portanto, envelhecer não precisa ser sinônimo de ficar doente. Tudo depende de uma decisão sua hoje que vai se refletir para o resto da sua vida.
Envelhecer de forma saudável depende das suas relações
Entrando mais especificamente na saúde mental, é importante você saber que aproximadamente 14% das pessoas com mais de 60 anos convive com algum tipo de transtorno mental, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. E que 10,6% dessas condições levam à incapacidade total dos idosos. Entre os problemas mais comuns estão a depressão e a ansiedade.
Esses transtornos se desenvolvem por uma série de fatores, dentre os quais estão o etarismo (preconceito relacionado à idade), isolamento social, sentimento de solidão e abuso por parte de cuidadores e familiares.
Doenças crônicas e silenciosas, como demência, Alzheimer, Parkinson e outros desequilíbrios neuromotores também acabam se tornando bastante comuns e afetando de forma significativa a vida dessas pessoas.
Mas existe um componente que pode transformar essa realidade. E ele se chama afeto.
Quando nos dispomos a desenvolver relacionamentos saudáveis com as pessoas ao nosso redor, criamos vínculos emocionais que podem dar o suporte necessário para a manutenção da saúde mental do idoso. Tanto para nós mesmos, quando chegarmos lá, quanto para as pessoas idosas que fazem parte do nosso círculo social.
Uma perspectiva ayurvédica da saúde mental do idoso
De acordo com o Ayurveda, a nossa vida é dividida em três etapas, cada uma delas governada por um dosha. Na infância, existe a predominância de kapha dosha. Na fase adulta, é o pitta dosha quem domina. Já na velhice, é o vata dosha quem predomina.
Se você leu o meu artigo sobre vata dosha, sabe que as características dele são a secura, leveza, frieza, aspereza, sutileza e movimento. Ou seja, em um estado agravado, ele torna tudo mais árido e rápido. Muitas vezes, ele também pode tornar os nossos processos biológicos mais erráticos.
Como os doshas do corpo interagem o tempo todo com os doshas da mente — rajas e tamas — uma tendência de vata dosha agravado é afetar a saúde mental das pessoas.
Quando isso acontece, podemos perceber perda de memória, confusão, letargia, dificuldade de concentração, redução da capacidade cognitiva, entre outros sintomas que são atribuídos aos transtornos mentais que citei anteriormente. Ou seja, uma das formas de cuidar da saúde mental do idoso é manter o vata dosha sob controle.
Além de manter o vata dosha equilibrado, também podemos fortalecer a mente da pessoa idosa com a ajuda das três terapias da mente: dhi, dhairya e atmadivijñana.
Dhi: trabalhando o discernimento na terceira idade
A palavra dhi, em sânscrito, pode ser interpretada como intelecto, entendimento ou sabedoria. No que se refere às terapias da mente, eu gosto de traduzi-la como discernimento.
Isso porque o discernimento é aquilo que te permite entender o que é bom e o que é ruim para você, independentemente de opiniões externas.
Por exemplo: se você é uma pessoa idosa e ouve de outra pessoa que “está velha para o mercado de trabalho”, o discernimento vai te ajudar a entender que essa opinião não serve para você.
Logo, ela não vai afetar a sua saúde mental, nem gerar qualquer tipo de dúvida sobre quem você é e a sua relevância para o mercado de trabalho.
Dhairya: encontrando a coragem para seguir em frente
Se dhi ajuda no discernimento sobre o que é bom ou ruim para você, dhairya te dá a força que você precisa para dar continuidade à sua vida.
Na terceira idade, é comum vermos entes queridos partindo, seja por falecimento ou mesmo pelo afastamento de familiares. E é claro que isso gera um impacto emocional e mental.
Mas praticando dhairya, você vai entender que este é o fluxo natural da vida e que outras pessoas podem passar a fazer parte da sua existência.
Você pode fazer parte de clubes de leitura, ir à academia, fazer viagens em grupo, criar oportunidades para conhecer novas pessoas e assim seguir nutrindo a sua saúde mental. Você pode até vir fazer um curso gratuito de Ayurveda comigo!
Atmadivijñana: reconhecendo quem você é
Para o Ayurveda, a vida é a união de quatro coisas: sharira (corpo), indriya (órgãos dos sentidos), sattva (mente) e Atma (aquilo que você é em essência).
Segundo o Charaka Samhita, um dos textos clássicos do Ayurveda, Atma é aquela parte de você que é eterna e que experiencia esta vida através do corpo, da mente e dos sentidos.
Quando você reconhece que o corpo é “seu”, que o pensamento é “seu”, que a mente é “sua”, que tudo o que é externo a você não é você, a vida fica mais leve.
Você não precisa se apegar a essas coisas que são externas e que, no final das contas, não são você. E assim, você passa a valorizar mais a sua individualidade, os seus gostos, os seus desejos e também os seus planos.
Afinal, chegar à terceira idade não significa que a sua vida para. Pelo contrário, você tem maturidade e experiências acumuladas para dar novos significados à sua existência.
E esse é um dos grandes segredos do Ayurveda: te dar tempo de vida de qualidade para realizar tudo aquilo que você sonha.
Espero que este artigo tenha te ajudado a entender que a saúde mental do idoso vai muito além de uma caixa inteira de medicamentos no seu armário e que ela pode ser conquistada com pequenos passos.
E se você quiser continuar caminhando comigo rumo a essa longevidade saudável, te convido a conhecer o Invicta, o nosso curso prático de Ayurveda.
Eu estruturei ele em 12 passos para que você possa transformar a sua saúde de forma constante, consistente e, principalmente, conectada com a sua individualidade.
Um abraço e lembre-se sempre: Saúde é Liberdade!
Matheus