Yoga, uma filosofia de vida

Você sabe o que é o yoga? Não exatamente? Fica na dúvida se o yoga é uma filosofia de vida ou apenas um exercício? Então esse artigo é para você!

Fica comigo até o final, que eu vou adorar te contar um pouquinho sobre essa prática admirável.

Yoga é apenas uma atividade física ou é uma filosofia de vida?

O yoga tem como principal intenção a união do corpo e da mente com o todo. A palavra sânscrita significa unidade e deriva da raíz yuj, traduzida como unir ou juntar, que por si só nos indica um fundamento.

Mantendo a atenção aos nossos impulsos e reações, beneficiamos nossos relacionamentos em um âmbito geral e essa filosofia nos mostra muito sobre isso.

Segundo a tradição, com uma vida de ação e disciplina, podemos lidar melhor com a mente, controlando melhor nossas emoções. 

Almejando a equanimidade, torna-se possível aceitar de melhor maneira os desafios que se apresentam durante a vida. Percebemos assim as nossas tendências reacionais e trabalhamos para controlá-las, buscando entender que a verdadeira satisfação não depende de circunstâncias externas.

“Yogaś citta vr̥tti nirodhaḥ.’’ 
“Yoga é equilibrar os movimentos da mente.”
 (Yoga Sutras de Patanjali 1.2)

Origem e Evolução Histórica da Yoga

Nas profundezas do tempo, nas terras veneráveis da Índia antiga, nasceu a yoga – uma joia da sabedoria ancestral. Esta prática milenar, enraizada nas tradições védicas, evoluiu ao longo dos séculos, transformando-se e adaptando-se, mas sempre mantendo sua essência divina. A yoga, inicialmente um caminho espiritual para os sábios e eremitas, gradualmente floresceu em um sistema abrangente para o bem-estar integral, cruzando fronteiras e eras com sua mensagem de união e harmonia.

A Relevância Crescente da Yoga no Ocidente

Na modernidade agitada do Ocidente, a yoga surgiu como um refúgio sereno, oferecendo um oásis de paz em meio ao turbilhão da vida cotidiana. Sua ascensão no mundo ocidental, mais do que uma tendência, é um testemunho do anseio humano por equilíbrio e autodescoberta. Yoga, com sua abordagem holística, oferece não apenas uma forma de exercício físico, mas um caminho para a serenidade mental, a saúde emocional e a expansão espiritual, atendendo às necessidades profundas da sociedade contemporânea.

Os Oito Pilares da Yoga e Seu Significado Holístico

Os Oito Pilares da Yoga, conhecidos como Ashtanga Yoga, são o coração pulsante desta filosofia ancestral. Cada pilar é um degrau na escada para a elevação da consciência, uma jornada de transformação interior que começa no comportamento ético e culmina na iluminação espiritual. Juntos, eles formam um caminho sagrado, guiando o praticante através de um processo de refinamento pessoal e despertar espiritual, iluminando o caminho para a verdadeira natureza do ser.

Yama: Princípios Éticos e Morais

Yama, o primeiro pilar, é a fundação ética da jornada yóguica. Estes princípios morais, que incluem não-violência, verdade, não-roubo, moderação e não-possessividade, são faróis que guiam o praticante na senda da vida. Eles são o reflexo de uma conduta consciente e compassiva, essencial para a purificação do coração e da mente, preparando o terreno para uma prática yóguica mais profunda.

Niyama: Autodisciplina e Práticas Espirituais

Niyama, o segundo pilar, ilumina o caminho da autodisciplina e das práticas espirituais. Estes cinco preceitos – pureza, contentamento, austeridade, estudo de si e entrega ao Divino – são como estrelas a guiar o praticante na sua viagem interior. Cultivando essas qualidades, o yogue aprofunda sua conexão com o self e o universo, pavimentando o caminho para uma compreensão mais elevada.

Asana: Posturas Físicas e Seus Benefícios Internos

Asana, o terceiro pilar, é frequentemente o primeiro encontro de muitos com a yoga. Mais do que meras posturas físicas, cada asana é um gesto de respeito ao corpo, uma dança sagrada de equilíbrio e força. Ao praticar asanas, o yogue cultiva não apenas a saúde física, mas também a estabilidade emocional e a clareza mental, preparando o corpo como um templo digno para o espírito.

Āsana são posturas meditativas firmes e estáveis que diferem de apenas uma pose ou de um tipo de ginástica, por exemplo. 

Existem muitas discussões acerca da tradução dessa palavra e, para muitos, as definições não são suficientes para expressar a essência desses padrões posturais. 

Polêmicas à parte, a prática cotidiana das posturas traz relaxamento físico e mental.

Ademais, nos faz ter respeito e paciência com o nosso corpo. Se esperamos evoluir em força e resistência, é preciso a constância na execução. Além disso, um āsana consistente acaba por beneficiar o estado meditativo, tornando mais atingível permanecer imóvel em plena consciência.

As posturas específicas resultam inclusive em uma limpeza dos nossos canais de energia, os nadis (naḍī), equilibrando o fluxo natural do corpo, auxiliando-nos a manter a mente sempre focada no momento presente.

Mesmo não sendo correto classificá-lo apenas como prática física, ainda assim o yoga pode ser muito favorável quando buscamos movimentar mais o corpo, já que nos brinda com mobilidade, alongamento, força e resistência, proporcionando benefícios tangíveis para qualquer pessoa, além de nos incentivar a buscar a plenitude.

Pranayama: Controle da Respiração e Energia Vital

Pranayama, o quarto pilar, é a arte sagrada do controle da respiração. Nesta prática, o sopro é mais do que ar – é a energia vital, o prana, a força que anima toda a existência. Através do pranayama, o praticante aprende a regular e harmonizar essa força vital, acalmando a mente e energizando o corpo, abrindo as portas para estados superiores de consciência.

Pratyahara: Retração dos Sentidos para a Autoconsciência

Pratyahara, o quinto pilar, convida o praticante a virar os sentidos para dentro, longe das distrações do mundo exterior. É o ato de retirar a energia que normalmente é dispersa através dos sentidos e redirecioná-la para a iluminação interior. Pratyahara é um passo crucial para a introspecção profunda e a verdadeira compreensão de si.

Dharana: Concentração e Foco Mental

Dharana, o sexto pilar, é a prática da concentração inabalável. Aqui, o yogue aprende a focar a mente em um único ponto, liberando-a das distrações e oscilações constantes. Este domínio da concentração é essencial para o avanço na jornada yóguica, pavimentando o caminho para a verdadeira meditação.

Dhyana: Meditação e Auto-Reflexão

Dhyana, o sétimo pilar, é o estado sublime de meditação. Nesta etapa, a concentração se transforma em uma meditação profunda e contínua, onde a noção de ‘eu’ se dissolve na experiência da unidade. Dhyana é um oceano de tranquilidade e clareza, um refúgio sereno onde o praticante pode mergulhar nas profundezas do seu ser.

Samadhi: Estado de Consciência Expandida e Iluminação

Samadhi, o oitavo e último pilar, é o cume da jornada yóguica, um estado de consciência expandida onde o praticante experimenta uma união total com o Divino. Neste estado transcendental, as barreiras entre o eu e o universo desaparecem, revelando a verdadeira natureza do ser e do cosmos. Samadhi é o despertar final, a realização da paz eterna e da iluminação.

Uma prática milenar de autoestudo

O yoga é um dos 6 darshanas (darśana), ou escolas filosóficas da tradição védica, preceito que por definição abarca tudo aquilo que deriva dos Vedas, esse corpo de conhecimento único que tem como maior objetivo nos mostrar que é possível vivermos livres do estado de sofrimento. 

É uma filosofia de vida originada na Índia, datada de mais de cinco mil anos, tendo como textos clássicos mais conhecidos o Bhagavad Gītā (que faz parte do épico Mahabharata), os Yoga Sūtras de Patañjali, o Gheraṇḍa Saṁhitā, o Darśana Upaniṣad e o Haṭha Yoga Pradīpikā, todos tidos como textos que estabelecem as bases dessa sabedoria milenar.

“Quando a decepção me olha nos olhos e sozinho eu não vejo sequer um raio de luz, eu me volto para a Bhagavad Gītā. Eu encontro um verso aqui, um outro verso ali e imediatamente começo a sorrir em meio a tragédias esmagadoras. Minha vida tem sido cheia de tragédias externas e se elas não deixaram nenhuma cicatriz visível ou permanente em mim, devo tudo aos ensinamentos do Bhagavad Gītā.”  

Mahatma Gandhi – Reformador social indiano

Em uma das obras mais reverenciadas que marca o yoga clássico, os Yoga Sūtras de Patañjali (o sábio responsável por oferecer de forma clara e pedagógica a sabedoria do yoga), no segundo capítulo encontramos o instrumento para kaivalyā, a liberação da condição de sofrimento, que nos leva a estar em estado “inteiro”, puro e perfeito. O capítulo é dedicado à sadhana, as práticas cotidianas que nos encaminham ao encontro de um objetivo. 

Silenciando a mente com o yoga

Com pratyāhāra, o domínio sobre as influências externas descrito nesse mesmo compilado como o quinto membro do Aṣṭāṅga Yoga (as qualificações e disciplinas que nos mostram de uma maneira sistemática e organizada, oito partes essenciais para vivenciar a realidade dessa filosofia, determinadas por Patañjali), percebemos que recolher os sentidos pode nos auxiliar a compreender melhor o que compõe o yoga. 

Do sânscrito, prati significa retrair, abster-se e āhāra é traduzida como alimento, como aquilo que nos nutre. Pratyāhāra consiste em recolher aquilo que nos nutre, ou seja, nesse caso, os nossos sentidos. Aqueles que são responsáveis por captar todos os tipos de estímulos que recebemos do nosso entorno. Esquecendo esses estímulos à nossa volta, serenando a nossa mente e interiorizando as sensações, podemos seguir para os próximos passos em busca de uma concentração profunda e uma condição meditativa mais sólida.

“Seja qual for a razão pela qual a mente inconstante e sempre em movimento se disperse, que a pessoa, afastando a mente dessa razão, traga-a de volta sob o seu controle”. 

Bhagavad Gita 6.26

Recolhendo os sentidos com frequência, podemos alcançar uma mente ekāgratā, assim dizendo, uma mente focada que vai a fundo relacionando-se integralmente com algo, fixando a atenção em alguma coisa determinada, em um único ponto. Esse estado exige entrega, disciplina, presença, pureza mental e física, tranquilidade, determinação e compromisso. Portanto yoga também é meditação; meditação também é yoga e ambos são essenciais para o autoconhecimento, ou autoestudo como prefiro chamar. 

Mesmo sendo uma prática fundamentalmente de autoestudo, na tradição existe um princípio chamado paramparā que, como conceito, é o conhecimento passado de professor a aluno. Essa necessidade existe não para que fiquemos dependentes de outra pessoa e sim para que tenhamos clareza para compreender os ensinamentos do yoga, vindo de quem já teve uma experiência prática e direta, alguém que já esteve “nesse lugar” e por meio do conhecimento adquirido pode nos fornecer uma base sólida, evitando diversos equívocos que teriam potencial de acontecer pelo caminho.

“Quando olhamos além dos benefícios à saúde, o que significa estar atento? Eu diria que significa conhecer a si mesmo. No caso de qualquer pessoa que deseje gozar de boa saúde, conhecer a si mesmo significa, em primeiro lugar, saber o que está acontecendo na sua mente.”

Dr. Fréderic Rosenfeld – Psiquiatra e Dr. em Neurociência, estudioso de meditação

Diferentes Estilos e Abordagens de Yoga

A jornada do yoga é tão diversa quanto as ondas no oceano. Cada estilo e abordagem oferece um caminho único para explorar as profundezas do ser. Ao escolher um estilo de yoga, estamos escolhendo um guia para nossa jornada interior, cada um com sua própria beleza e desafios.

Tabela: Estilos de Yoga e Suas Características

Como Incorporar a Yoga no Dia a Dia

Yoga não é apenas uma prática que se limita ao tapete; é uma forma de viver. Incorporar yoga em nossa rotina diária significa trazer sua essência para cada momento, cada respiração, cada escolha. É cultivar uma presença consciente, uma abordagem equilibrada para a vida, transformando o cotidiano em uma expressão de yoga.

Dicas para Iniciantes: Encontrando Seu Estilo e Prática

Para quem está iniciando, o mundo do yoga pode parecer um labirinto de escolhas. Comece explorando diferentes estilos para encontrar aquele que ressoa com sua natureza. Seja paciente e gentil consigo mesmo, e lembre-se de que cada prática é um passo no caminho do autoconhecimento e do crescimento.

Criando um Espaço para Prática em Casa

Criar um espaço para a prática em casa é como construir um santuário pessoal. Escolha um local tranquilo, longe de distrações, e o decore de maneira simples e serena. Este espaço deve ser um convite à prática, um lembrete gentil da sua jornada interna.

Integrando a Yoga na Rotina Diária

Integrar yoga na rotina diária é mais do que praticar asanas; é adotar uma atitude yóguica perante a vida. Comece com pequenas práticas: uma respiração consciente, uma postura de yoga pela manhã, ou alguns minutos de meditação. Faça da yoga uma companheira constante em seu dia.

Yoga Para Todos

Yoga é um presente universal, disponível para todos, independentemente de idade, gênero ou condição física. É uma prática inclusiva que celebra a diversidade, oferecendo caminhos acessíveis para cada indivíduo em sua singularidade.

Acessibilidade e Diversidade na Prática da Yoga

• Adaptação das posturas para diferentes capacidades físicas.
• Uso de acessórios como blocos, cintos e almofadas para facilitar a prática.
• Aulas específicas para grupos diversificados, como idosos, crianças, gestantes, entre outros.
• Inclusão e respeito às diferentes culturas e tradições na prática.

Yoga Para Diferentes Idades e Condições Físicas

Yoga se adapta às necessidades de cada corpo e cada fase da vida. Para crianças, pode ser uma brincadeira; para idosos, um caminho para a mobilidade e vitalidade. Em cada condição física, a yoga oferece uma forma de conexão e bem-estar.

Encorajando a Prática Coletiva e Comunitária

Yoga, enquanto prática coletiva, cria uma teia de conexões. Participar de aulas em grupo ou praticar com amigos e familiares não apenas fortalece os laços comunitários, mas também amplifica a energia da prática, criando uma experiência compartilhada de crescimento e descoberta.

Abrace o yoga como uma filosofia de vida

O yoga nos ensina a perceber as armadilhas de mayā, as ilusões que surgem rotineiramente e que nos aprisionam em padrões de sofrimento. A filosofia do yoga nos mostra meios de perceber que somos um com todo o universo, pertencentes e plenos por natureza. Oferece ao praticante ferramentas que sustentam essa busca pela completude ou, em outras palavras, a busca pela tão sonhada “felicidade”, que só pode acontecer quando nos comprometemos a trabalhar a nossa mente.

É uma verdadeira sabedoria na forma mais pura da palavra, uma filosofia de vida que busca transmitir o conhecimento libertador, aquele que ensina o indivíduo a evoluir através do desenvolvimento de auto disciplina e consciência, alcançando o discernimento, que é responsável por nos oferecer clareza mental e consequentemente mais serenidade em qualquer cenário.

Assim sendo, com abhyāsa e vairāgya, a perseverança e o desapego caminhando junto conosco pela jornada terrena, podemos ir ao reencontro da nossa base, do nosso íntimo, do nosso verdadeiro eu. Abraçando o yoga com sinceridade, respeito e devoção, desvencilhando a mente de apegos, aversões, julgamentos e crenças, pode ser possível acessar nosso estado natural, encontrando a lucidez e mais foco no dia a dia.

Interessante né? Que tal agora trazer um pouquinho do yoga pra sua vida?

Se quiser saber mais sobre os benefícios do yoga, assista o vídeo abaixo:

Se você já pratica yoga, conta pra gente nos comentários alguma dica para quem está começando!

Um abraço e nos vemos pela jornada!

Instrutora de Yoga e monitora de Yoga Vijñana do Vidyalaya

Tainá Figueiras