Uma das dúvidas mais comuns de quem começa a estudar Ayurveda é o número de refeições que devemos fazer por dia. Se você acompanha o Vida Veda, possivelmente já sabe que a recomendação ayurvédica é fazer menos refeições do que as pessoas estão acostumadas. Mas por quê? E quantas, afinal? Continue lendo para entender.
A lógica alimentar
Ceia, pré-treino, pós-treino, desjejum… Nomes como esses, que há 50 anos não existiam, passaram a fazer parte da rotina alimentar das pessoas, em um consenso de que deveríamos nos alimentar a cada duas ou três horas.
O problema em viver com esse pensamento é que a vida em termos de alimentação se torna mapeada, industrializada, ou seja, como se recebêssemos orientações de fora para dentro.
Então, é essencial entender um pouco sobre a evolução do ser humano e como isso pode orientar a sua lógica alimentar de forma mais assertiva. Ao final deste post, você vai saber qual a recomendação ayurvédica final para você em termos de frequência alimentar.
Alimentação: um dos 4 Pilares da Saúde
A alimentação é um dos 4 Pilares da Saúde, um dos elementos fundamentais para que você deveria olhar e efetivamente construir uma vida com mais energia, saúde e vitalidade.
Existem três elementos essenciais quando o assunto é alimentação. Quando você está tentando se alimentar melhor, você deve pensar na qualidade, na frequência e na quantidade dos alimentos que você consome.
Neste post, quero falar com você sobre o elemento frequência.
Pensa comigo: o Homo sapiens sapiens, o bicho que somos, existe há mais ou menos 300 mil anos, e passamos grande parte dessa evolução em lugares onde a alimentação era escassa. Então, começamos a nossa vida lá na savana africana. Ninguém tinha seis refeições por dia. O ser humano evoluiu num cenário de escassez alimentar.
Por sinal, somos muito bem adaptados para a escassez alimentar, afinal, concentramos glicose no formato de glicogênio, que é tipo um estoque de glicose. Quando o corpo entra em jejum, ele ativa essas reservas para produzir glicose, que é a base que nosso corpo usa como força motriz, como gerador de energia dentro das suas células.
Aprendemos a estocar energia ao longo da evolução humana para usar quando não tivesse alimento, assim, estamos preparados para a escassez alimentar.
Jejum X alimentos industrializados
Eu já tive oportunidade de trabalhar numa clínica no Norte da Califórnia, que se chama TrueNorth Health Center. Lá, acompanhei pacientes que estavam fazendo jejum terapêutico de água, isto é, só bebendo água, em durações de uma semana até 40 dias de jejum terapêutico.
E você pode pensar: “Nossa, Matheus, jejum terapêutico de 40 dias? Nunca ouvi falar nisso”.
Se você é uma pessoa que já leu a Bíblia, por exemplo, com certeza ouviu falar que Jesus foi para o deserto e jejuou durante 40 dias e 40 noites. Buda também fez isso. Por exemplo, no Ramadã, as pessoas acabam jejuando durante muitos dias também. Essa prática de jejum faz parte da maioria das religiões, porque é uma reprodução da natureza do corpo humano. Isso tudo para te dizer que nosso organismo aguenta jejum.
Hoje, a indústria alimentícia produz muitas coisas empacotadas. E em que horas você vai consumir essas opções? De fato, existe todo um esforço da indústria para criar demanda dentro de você, que é o consumidor. Assim, vai sugerir que você coma barrinha em que horas? Na hora do almoço, na hora do jantar? Não.
Então, precisamos de um lanche, de uma colação, de um pré-treino e de um pós-treino. Senão, em que horas você vai tomar o seu shake? Dessa forma, esse processo faz sentido dentro de uma lógica de indústria alimentícia.
Mas a verdade é que isso está bem distante da nossa natureza.
Se você pensar nos seus avós, por exemplo, muitas vezes eles tomavam um café da manhã humilde, roçavam a manhã inteira, paravam para almoçar e comiam arroz, feijão, legumes, às vezes algum alimento de origem animal, roçavam a tarde inteira e, no final do dia, comiam uma canja, uma sopa, alguma coisa. Faziam, em média, três refeições por dia. Quer saber quais alimentos escolher? Assista a este vídeo!
Então, agora chego ao ponto fundamental: quantas refeições o ayurveda recomenda fazer?
Quantas refeições o Ayurveda recomenda fazer?
Eu busco referência num texto clássico de 2.000 anos atrás, que é o Sushruta Samhita. O Sushruta tem uma frase bem clássica, que diz assim:
“O ser humano, quando está doente, deveria fazer uma refeição apenas por dia. E, quando está saudável, deveria fazer duas refeições por dia”.
Assim, o teto que o Ayurveda coloca é na realização de duas refeições por dia. O Sushruta fala que você deveria fazer intervalos de cinco a seis horas entre essas refeições, ou seja, você faria duas refeições por dia, com intervalo entre elas de cinco a seis horas, e não comeria nada da segunda refeição para a primeira do dia seguinte.
“Mas, Matheus, para tudo. Isso não é o que modernamente é chamado de jejum intermitente?”
É, exatamente. Mas essa é a maneira como o Ayurveda fala que você deveria comer há pelo menos uns 2.000 anos. Para a maioria das pessoas na nossa sociedade, a ideia de fazer duas refeições gera estresse, ansiedade e palpitação. “Matheus, não me fala um negócio desse, porque vou morrer de fome, vou desmaiar na rua.”
Então, eu costumo permitir aos meus pacientes a ideia de que é possível comer três vezes por dia: café da manhã, almoço e jantar. Entre essas refeições, é necessário deixar intervalos de quatro a cinco horas, em média.
Imagina que você faz uma primeira refeição às 8h30, uma segunda às 12h30 e a sua última refeição é às 18h30. Você faz um ciclo de alimentação com três refeições, com intervalos suficientes para você poder digerir esse alimento de maneira adequada, sem excessos e sem comer industrializados.
Em que horário fazer as refeições?
Sei que aqui você pausou um pouquinho. “Como assim, Matheus, você vai jantar às 18h30?”
Esse é um grande problema que vejo com meus pacientes. A maioria das pessoas almoça por volta de 12h, 13h, e janta muito tarde, 20h, 21h, às vezes 22h. Se você tem uma janela muito longa de jejum, um intervalo muito longo entre uma refeição e a outra, o que vai acontecer é que você invariavelmente vai sentir fome no meio do caminho.
E esse é um grande problema que vejo na clínica. A maioria das pessoas que jantam muito tarde, sentem muita fome perto das 16h30, 17h.
Se esse é o seu caso, se você sente aquela fominha à tarde, o que efetivamente você come? Porque meus pacientes falam: “Eu como o que eu vir pela frente”.
E, na verdade, o que as pessoas acabam fazendo é um lanchinho para dar uma tapeada na fome, ou seja, para dar uma enganada no corpo e aguentar até o horário de jantar, às 19h, 20h. Sem dúvida, tudo isso é resolvido quando você simplesmente move a sua refeição das 20h para mais cedo.
Além de você melhorar essa janela de alimentação, em vez de comer algo industrializado às 17h, você faz um jantar decente às 18h. Uma horinha de espera é possível. Esperar das 16h30, quando você começa até fome, até 20h já não é mais tão tolerável assim. É preciso afastar o horário da sua refeição do seu horário de dormir, o que garante que você também vai melhorar o seu pilar do sono.
Olha como os 4 Pilares da Saúde são conectados. O horário e a qualidade do seu jantar influenciam a qualidade do seu sono. Quando você dorme mal porque comeu muito tarde e ficou digerindo a comida a noite toda, acorda de manhã mal dormida e acredita que vai resolver tudo tomando um shot de café no café da manhã, mas não vai.
Você precisa ir atrás da raiz do problema. Onde é que tudo isso começou? E, muitas vezes, isso começa no seu jantar.
“Mas, Matheus, eu quero sentar com a minha família. Olha que desfeita que eu estaria fazendo com meu marido, com minha esposa, com meus filhos.” O que eu recomendo, muitas vezes, é que, se você está com problemas de saúde, vale a pena dar uma radicalizada.
Você come às 18h, 18h30, o mais perto do pôr do sol possível, e senta com a sua família na hora do jantar, mas, em vez de comer, toma um chazinho, troca uma ideia, come uma sopinha, mas não faz uma refeição.
Outra questão interessante mapear aqui é que o corpo humano funciona muito bem de forma diurna, enquanto está sol lá fora. Então, depois do pôr do sol, existe uma tendência de a sua digestão ir piorando até a hora de você dormir. Quanto mais tarde você janta, pior é a digestão.
Se você janta e dorme, por exemplo, a qualidade da sua digestão é reduzida, porque o corpo, quando está dormindo, já não digere bem. É como se você desligasse os motores ou diminuísse a velocidade das máquinas. Assim, elas não vão processar esse alimento com o devido rigor com que deveriam.
Dessa forma, você ter um intervalo interessante entre o jantar e a hora em que você vai dormir também garante não só que você vai melhorar a sua digestão, como vai melhorar o seu sono.
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Abraços e lembre-se sempre: SAÚDE É LIBERDADE!
Matheus
Parabéns Matheus amei sua publicação, pretendo colocar em prática 😃
Artigo muito interessante. Boas dicas
Ótimo texto! Bem explicativo! A minha dúvida sempre é o que comer à noite. Faço 2 refeições por dia, sendo que o almoço é muito completo. Acabo não tendo fome à noite. Mas se for jantar, o q poderia ser? Obrigada
Legal!! Mas olha só, tenho uma duvida cabeluda!
Geralmente janto umas 18:30 mesmo – POREM nos dias de pratica de capoeira, que começa as 20h e termina 21:30, eu chego em casa com fome – Alias, estou bem magricela e acredito que dormir em absoluto jejum nesses dias nāo me parece bom.
Estou ja adaptando minha deita para conter mais calorias – Mas a duvida que nāo quer calar ë – será que eu como alguma coisa antes de ir para cama nesses dias, e se sim, o que seria mais indicado?
Pensei tambem em fazer um lanche extra calorico logo antes da pratica, tipo amendoim, ou um Jantar diferente, menos leve, mais calorico. << mais interessante ?
Um beijao! Adoro sua escrita e te sigo tambem la no Insta!