Você conhece o Ayurveda mas não sabe nada sobre Yoga ou conhece o Yoga e não sabe nada sobre Ayurveda?
Então não deixe de ler esse artigo, onde eu te mostro um pouquinho sobre o que o Yoga e o Ayurveda têm em comum e por quê você deveria introduzir essas sabedorias ancestrais na sua vida.
Um bom Vaidya deve estudar Yoga e
um bom Yogi deve estudar Ayurveda.
Os três pilares
Se você conhece um pouquinho o Ayurveda já deve ter ouvido falar em trayopasthambha, os 3 pilares que suportam o nosso corpo, āhāra, nidrā e brahmacarya. Eles são essenciais para uma boa saúde, segundo essa impressionante medicina indiana.
Ahara (Āhāra) é a alimentação, nidra (nidrā) o sono e bramacharya (brahmacarya), o mais polêmico dos pilares, aquele que sempre gera discussões e incompreensões sobre o seu significado.
Mas não estou aqui para entrar nessa peleja e sim para fazer um paralelo desses eixos citados pelos clássicos, com o yoga, pois eles são fundamentais para o nosso bem-estar.
Yoga e brahmacarya
Começo por esse pilar tão debatido, brahmacharya, que também foi citado por Patañjali nos Yoga Sūtras, como o quarto yāma. Yamas (yāma) são maneiras “simples” de agir conosco e com o nosso entorno, as quais trazem paz de espírito e felicidade para nós seres humanos.
Uma definição de brahmacharya que gosto bastante é a seguinte: viver de acordo com os preceitos da natureza. Nós somos a natureza e viver em desacordo com ela, é viver em desacordo com nós mesmos.
Mas como poderíamos então, inserir brahmacharya no nosso dia a dia?
Começamos respeitando, observando e compreendendo o nosso corpo. Algo que se buscarmos no Ayurveda, podemos relacionar com dinacharya (dinacaryā), as rotinas diárias de autocuidado para a manutenção da saúde e prevenção de doenças.
O primeiro passo desse ritual diário é reparar como nosso corpo está assim que acordamos. O que sentimos, como passamos à noite de sono, como estão os pensamentos e a mente, analisando se existe alguma dor ou desconforto.
Praticar a presença e aprender a interpretar o corpo, faz parte do Yoga de igual maneira e essa prática é tão importante que inclusive impacta a forma que nos apresentamos ao mundo.
Despertando pela manhã e nos percebendo, dia após dia passamos a nos conectar profundamente conosco, ao invés de pegar o celular naquele movimento automático, direcionando a nossa atenção para o exterior. Dessa maneira voltamos o olhar para nós mesmos e buscamos a compreensão de quem realmente somos.
Podemos pensar também em brahmacharya como moderação. Saber os nossos limites e respeitar os limites dos outros.
A moderação nos leva a ter uma vida mais leve. Sem exageros tudo flui. A saúde, as relações, a nossa própria jornada passa a seguir um fluxo suave e natural.
A verdadeira felicidade está em entrar em contato
com o que somos e viver de acordo com isso.
Yoga e ahara
Falar em moderação, também nos conecta a alimentação (āhāra), nosso próximo pilar. Quando nos alimentamos com moderação e presença, o organismo todo trabalha afinado. Consegue perceber como tudo está intimamente relacionado?
Nesses dias, em um grupo de estudos do qual eu participo, falávamos sobre āhāra e foi quando uma colega colocou a foto da página de um livro (não me recordo qual). Nesse momento um trecho específico me chamou a atenção: “só os humanos têm um relacionamento tão difícil com a comida”.
Por que será? Será que muitas vezes deixamos nossos estados mentais despertarem desejos que geram apenas satisfação momentânea, por estarmos constantemente insatisfeitos? E esses desejos cada vez maiores e mais constantes, não acabam por prejudicar nossa saúde e consequentemente a nossa mente?
Seguidamente comemos emoções, já parou pra pensar nisso?
Essas tendências impulsivas transformam
o nosso cotidiano em um círculo vicioso.
Uma breve reflexão…
Uma mente agitada e confusa desenvolve mais desejos, nos levando as más escolhas, o que como efeito torna nossa mente mais agitada e confusa.
Diante da frase desse livro que comentei acima, viajei mais além no pensamento. Os animais que domesticamos, às vezes também começam a ter um relacionamento diferente do habitual com a comida, especialmente quando impomos nossos hábitos e crenças a eles.
Pensa bem, um animal que fica muito tempo trancado em um apartamento, por exemplo, passa a desenvolver tristeza e ansiedade, não é verdade? Essa situação que lhe é incomum, pode gerar compulsão ou aversão ao alimento.
Ou quando decidimos oferecer-lhe aquela guloseima que adoramos, acabamos viciando o bichano naquilo que ele por si só nunca consumiria.
O que resulta amiúde, em doenças que nós humanos conhecemos muito bem, entretanto, não são da natureza dos animais.
Percebe que quando modificamos a essência verdadeira do bichinho, ele passa a apresentar os mesmos sintomas de desequilíbrios que são tão comuns na sociedade hoje em dia?
Logo, isso não nos leva a pensar que estamos cada vez mais desconectados do nosso verdadeiro eu?
A importância do alimento
Tal como meditação é yoga e yoga é meditação, na minha opinião, não existe Ayurveda sem Yoga ou Yoga sem Ayurveda. Desde o começo desse artigo, vemos claramente o Yoga e o Ayurveda se misturando o tempo todo, complementando um ao outro.
Segundo Caraka Saṃhitā, um dos clássicos mais antigos e reverenciados da medicina indiana, a maneira ideal de se alimentar é descrita como:
Sem uma alimentação adequada e consciente, não alcançamos uma mente com qualidade sattva (a clareza, uma mente clara).
Independentemente de quais pranayamas (prānāyāma – técnicas de respiração), ásanas (āsana – posturas meditativas) ou kriyas (kriyā – técnicas de limpeza) realizamos.
Nessa toada, ambos continuam se fundindo, Yoga e Ayurveda, tornando-se inseparáveis.
Yoga e nidra
O sono também depende de presença, de entrega. Em uma das aulas da formação do Vida Veda, Matheus comentou que quem é controlador demais, dificilmente consegue dormir e se consegue dorme mal. Essa fala me marcou.
Ser controlador nada mais é do que ter uma mente fortemente apegada ao material, ao meu, a ahaṃkāra, o ego.
A identificação intensa com o corpo físico, é a desconexão com o todo.
Uma das buscas de quem pratica Yoga como filosofia de vida, é desconectar-se desse sentimento intenso de eu.
Patañjali, nos Yoga Sūtras, definiu uma das aflições da mente humana (kleśa), como asmita (asmitā – intenso apego ao ego) – “uma das sementes que pode ser jogada no campo fértil da ignorância”, disse certa vez Glória Arieira.
Aquele eu que não é real porém age como se fosse. Podemos falar mais sobre todos os kleshas em um próximo artigo.
É possível que essa e outras aflições sejam eliminadas através da meditação, praticando a entrega ao aqui e agora. O que certamente pode nos ajudar a relaxar e como resultado trazer-nos boas noites de sono.
Regras e mandamentos?
Nada disso são regras ou mandamentos. Não há necessariamente, religião ou obrigação envolvidos, nem no yoga e nem no āyurveda, portanto relaxe sobre isso se quiser inseri-los na sua vida.
São conhecimentos disponíveis para todos e demonstram uma maneira harmônica de entender o caminhar da existência e da natureza. Nós estamos incluídos no conceito de natureza, somos parte dela, lembra?
É uma busca para chegar ao entendimento que existe algo maior que nós. Isso influencia nosso discernimento e nossa qualidade de vida.
Quem procura o estudo dessas sabedorias ancestrais, comumente têm uma inclinação implícita pelo autoconhecimento, pela busca da compreensão da mente, do corpo, da vida e do universo.
Não há Yoga sem Ayurveda e nem Ayurveda sem Yoga
Como você pode perceber, sem estarmos atentos às necessidades do nosso próprio corpo e ao que ele nos mostra diariamente, não conseguimos fazer boas escolhas.
Se as nossas escolhas diárias, tanto em termos alimentares quanto outros hábitos (incluindo aquilo que assistimos, ouvimos e falamos), não são agradáveis e positivos, não há como a mente permanecer focada, fluida e limpa.
Sem um corpo bem nutrido, bem descansado e ágil, não existe a possibilidade de a prática de Yoga ser bem-sucedida.
Sem cuidarmos da mente, tampouco é possível seguirmos elegendo opções benéficas relacionadas a nossa saúde e viver.
Não somos só esse corpo físico, ainda assim precisamos cuidar bem desse veículo que nos foi dado, para que tenhamos força ao enfrentar o passar dos anos em todo esse grandioso trajeto no saṃsāra, a roda da vida.
Por isso, não me resta dúvidas de que essas duas sabedorias milenares se complementam, caminham juntas e se incorporam.
Você já tinha pensado sobre isso?
Então comenta aqui embaixo, algum pensamento que esse artigo fez surgir em você ou compartilha conosco tuas ideias sobre isso.
E para saber mais sobre o Yoga, o Ayurveda e a mente, assista o vídeo abaixo:
Um abraço e nos vemos pela jornada!
Escrito por Tainá Figueiras, Professora de Yoga e Monitora da disciplina Yoga Vijñana, no Vidyalaya
Olá!
Excelente artigo! Não tem como essas duas preciosidades, yoga e ayurveda, andarem separadas.
Gratidão
Simples, objetivo e esclarecedor.
Parabėns pelo artigo!
Recomendo!!!
Artigo super interessante, era otimo haver mais artigos como este. E podia ate surgir uma formação, nesta area
Excelente artigo.
Gostei bastante do artigo! Estou na jornada do autoconhecimento e, através do Yoga, cheguei no Ayurveda. Realmente, uma sabedoria permeia a outra, não tem como separar. Parabéns pelo texto!!
Fui presenteada com essa matéria, parabéns pelo belíssimo trabalho.