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Não aqueça seu mel

Imagine aquele chá quentinho, reconfortante, que te lembra a casa da sua avó. Então você abre o pote de mel, pega uma colheradinha e vai derramando sobre o chá, observando como ele derrete e vai se misturando.

Sentiu o gostinho? Deu água na boca?

E se eu te disser que você não deveria esquentar o seu mel?

Mas antes, vamos dar um passo atrás e entender o que é mel, de onde ele vem e se só existe um tipo de mel. Bora lá?

O que é mel, afinal?

Mel é um alimento geralmente encontrado em estado líquido-viscoso e açucarado, que é produzido pelas abelhas a partir do néctar recolhido de flores e processado pelas enzimas digestivas desses insetos, sendo armazenado em suas colmeias para servir-las de alimento.

É isto mesmo: o mel é o produto da digestão do néctar das flores pelas abelhas, que é regurgitado e armazenado nos favos para consumo da colméia.

Mel é uma coisa só?

De maneira geral, o mel é composto 75% por carboidratos e 20% água. Os outros 5% correspondem a vitaminas, minerais e outros nutrientes.

Os açúcares presentes no mel são a frutose, a glicose, a sacarose e a maltose, sendo que os dois primeiros estão presentes em maior quantidade.

De cara, pode parecer que mel é uma coisa só. Mas por que ele não é? Porque mel = flores + abelhas.

Flores são uma coisa só? Não, existem milhares de tipos de flores. E abelhas são uma coisa só? Também não, pois existem mais de vinte mil tipos de espécies de abelhas em todo o mundo.

Ah, Matheus, então você está me dizendo que se a abelha colhe o néctar de duas flores diferentes ela vai produzir méis diferentes?

Sim. A natureza é muito complexa mesmo e dependendo da flor e da abelha, você pode ter méis diferentes. Faz sentido? Essa é uma das coisas mais importantes que você precisa saber sobre mel.

Então, toda vez que você se perguntar se mel faz mal ou se mel faz bem, tem que ter em mente que isso depende de uma série de fatores.

O mel de acordo com o Ayurveda

Existem diversas passagens nos clássicos ayurvédicos que falam sobre o mel. Mas hoje vou pegar como referência o Ashtanga Hrdayam, um livro de 1.500 anos e que é considerado um dos mais importantes no Ayurveda.

Segundo esse livro, o mel mais indicado é o madhu, que possui um sabor primário adstringente e um sabor secundário doce.

Este tipo de mel faz bem aos olhos, alivia a sede; o envenenamento; doenças hemorrágicas; meha (diversas doenças do sistema urinário); doenças de pele; Kapha dosha; verminoses; vômitos; problemas respiratórios; diarreia; e tosse. 

Além disso, é um excelente cicatrizante e antisséptico, podendo ser usado para limpar feridas. Também quebra formas rígidas no corpo e agrava Vata dosha por ser adstringente e seco.

 

Agora que você já sabe tudo sobre mel, vem a questão que nos trouxe até aqui: 

Por que você NÃO deveria aquecer o seu mel?

No contexto moderno, ao aquecer uma substância rica em enzimas e micronutrientes, você pode alterar o perfil químico dessa substância. Ou seja, ela deixa de ter os efeitos naturais dela.

Então o mel cru, não pasteurizado, é o mais recomendado, inclusive pelo Ministério da Agricultura brasileiro.

E os Samhitas ayurvédicos já falavam sobre isso há milênios. No Ashtanga Hrdayam, Sutrasthana, Capítulo 5, sloka 53, o autor chega a sugerir que o mel quente pode matar o ser humano.

Super dramático, não é? Mas esse sloka é bem específico e diz que você não deveria aquecer o mel, mas não é só isso.

Você não deveria consumir mel em um dia quente; nem com o corpo quente; nem na estação quente; nem se está sofrendo de algum tipo de calor excessivo no corpo; nem em lugares quentes; e nem com comidas quentes.

Sim, os textos ayurvédicos não deixam nenhuma dúvida quanto ao efeito negativo do calor sobre a qualidade do mel.

Lembra do chazinho do início da nossa conversa? Nem com ele você deveria consumir mel.

Mas qual é a lógica por trás disso?

Você lembra o que é o mel?

Mel = flores + abelhas.

Então por que não pode consumir mel quente de acordo com os Samhitas?

Segundo o Sushruta Samhita, porque o néctar é colhido de várias flores diferentes e o pólen dessas flores é levemente tóxico.

Portanto, o mel é um subproduto de uma substância levemente tóxica.

E quando você esquenta o mel, potencializa a sua toxicidade, o que pode fazer mal ao seu organismo.

Mas não para por aí. Continua comigo.

Quando eu li isso pela primeira vez, fui pesquisar para saber se atualmente existe algum estudo científico que fale a respeito da toxicidade do mel.

E adivinha? Existe.

O mel possui uma substância que se chama hidroximetilfurfural, que é uma substância levemente citotóxica. E quando você aquece o mel, multiplica a quantidade de hidroximetilfurfural dele.

Não estou falando que isso é a verdade absoluta. Apenas que existem estudos atuais que seguem a mesma lógica do Ayurveda em relação a consumir o mel quente.

Matheus, então não posso aquecer o mel nunca?

Pode. Mas em situações específicas.

Quando aquecer o mel, então?

De maneira geral, você pode aquecer o mel sempre que ele não for passar pelo seu sistema digestivo. E quando ele não vai passar pelo sistema digestivo?

  • Quando ele é usado em terapias de vamana (vômito terapêutico).
  • Quando ele é usado em terapias de niruha basti (enema).
  • Quando for usar de forma externa, como cicatrizante, por exemplo.

As terapias de vamana e basti fazem parte do que chamamos de panchakarma, por isso, não vou entrar em detalhes aqui.

Mas, se você quiser se aprofundar no tema e entender melhor o porquê de o mel não passar pelo sistema digestivo nesses tratamentos, eu te convido a conhecer o Certificado nos Fundamentos do Ayurveda.

O Fundamentos do Ayurveda é um curso de 21 horas no qual você vai aprender os principais conceitos e aplicações do Ayurveda de forma simples e prática, sem rodeios.

Este é um curso totalmente online, que você pode fazer no seu tempo e rever as aulas quantas vezes quiser para consolidar os conceitos e poder aplicar o Ayurveda no seu dia a dia sem erros.

Espero que tenha gostado deste artigo e, caso tenha alguma dúvida, pode deixar seu comentário.

Abraços e lembre-se sempre: SAÚDE É LIBERDADE!

Matheus

11 comentários em “Não aqueça seu mel”

  1. Patricia Frank Clemente

    Adorei receber este conhecimento. Adoro mel. Na prática já percebi que meu organismo não se dá bem com o mel, no verão. Porém, no decorrer do ano, uso diariamente. Gratidão.

  2. Nossa, muito esclarecedora essa matéria! Esses dias aqueci o mel cristalizado pra poder comer com abacate e passei muitooo mal depois, até o dia seguinte! E minha intuição não falhou, ela me disse que tinha sido o mel, por isso vim aqui pesquisar sobre o assunto. Muito obrigada, Mateus! Abraço

  3. KAREN CRISTINE TAVARES DE ANDRADE GEMENTE

    Adoro comida agridoce com mel! E precisa esquentar o mel com água para dar aquele efeito brilhante nós legumes.

  4. Bom dia!
    Gostaria de saber como descristalizar o mel sem aquecer.
    O aquecimento solar também é inapropriado?

  5. Edú Nunes dos Santos

    Então não se deve diluir em chás?

    E esses biscoitos à base de mel podem dar problema? Vigilância sanitária não deveria intervir sobre a fabricação desses prods.?

  6. muito obrigado pela explicação. não sabia! todo dia usava mel no café com leite bem quente. vou mudar sim! e fazer o que 1.500 anos nos ensinam. respçeito aos antigos! eles sabem muito mais que nós, intuitivamente!!! Meus pais, meus avós, sabiam das coisas!

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