Menopausa: é possível fazer reposição hormonal natural?

por Marilia Mayorga e Vd. Matheus Macêdo | Vida Veda

Será que ao entrar na menopausa, o corpo está com “defeito”?
Ou será que ele apenas está expressando uma nova fase?

A menopausa não é uma falha biológica, mas uma transição natural, parte do mesmo ciclo de inteligência que guia todas as fases da vida do ser humano, desde a infância até o envelhecer. 

O que muda é a maneira como a sociedade tem escolhido enxergar esse processo.

O Ayurveda vê a menopausa como um movimento de transformação e reajuste. 

A ciência moderna também caminha nessa direção, você pode observar que estudos recentes reconhecem a menopausa como uma reorganização metabólica e neuroendócrina, e não como simples perda hormonal. Essa visão integrativa aproxima o saber ancestral do Ayurveda das descobertas contemporâneas.

Neste artigo, vamos entender o que realmente significa uma reposição hormonal natural, quando ela é necessária e, principalmente, como apoiar o corpo com respeito e consciência durante essa transição.

Assista ao vídeo que inspirou este artigo:
“Menopausa: é possível fazer reposição hormonal natural?”

Diferença entre reposição medicamentosa e reposição natural

Antes de falar sobre reposição hormonal, é essencial entender uma coisa simples: o que é um remédio.

No Ayurveda, existem dois conceitos fundamentais:

• Ahara –  alimento
• Aushadha –  remédio

O alimento (ahara) atua principalmente por meio do sabor (rasa), que desperta reações fisiológicas suaves e graduais. 

Já o remédio (ausadha) age pela potência (virya), ou seja, seu efeito é direto, intenso e concentrado.

Por isso, você pode comer um prato cheio de brócolis, mas não cheio de gengibre (ou paracetamol), por exemplo.
O primeiro é alimento, já o segundo é medicamento.
A diferença entre eles está na força com que atuam em seu corpo.

Mas precisamos ter atenção a um ponto essencial: “natural” não significa “inofensivo”.
Quando substâncias vegetais de alta potência são utilizadas de forma concentrada, podem causar desequilíbrios se usadas sem orientação adequada. Por isso, o mesmo cuidado deve ser aplicado tanto às fórmulas ayurvédicas quanto aos suplementos modernos e fitoterápicos populares.
O que define algo como “medicamentoso” não é o fato de ser produzido por uma indústria farmacêutica, mas a intensidade com que altera os sistemas do corpo e, por isso mesmo, requer cuidado, acompanhamento e posologia.

O corpo feminino tem sua própria inteligência

Muita gente encara o corpo como se fosse um sistema simples, se falta é só repor.

Pensa num copo de suco: “se falta açúcar, põe açúcar e pronto.”
Mas o corpo não é um suco.

O corpo é um sistema vivo, complexo e adaptativo e não uma máquina linear em que basta repor o que “falta”, portanto, quando se introduz testosterona, estrogênio ou progesterona, não se está apenas “adicionando um ingrediente”, estamos mexendo em uma teia de feedbacks hormonais que regulam o equilíbrio de todo o organismo.

A endocrinologia descreve esses circuitos de retroalimentação há décadas.

 O Ayurveda também reconhece essa inteligência do corpo – chamada svabhava, a natureza auto reguladora que busca harmonia entre corpo, mente e ambiente.Por isso, nenhuma mudança hormonal é simples.
Toda intervenção cria um novo estado de equilíbrio.
E assim o corpo responde, ajusta, conversa, reequilibra.
E quanto mais respeitamos esse diálogo, mais natural se torna a transição.

A menopausa faz parte da vida

A menopausa não é um defeito do corpo, mas um movimento natural da vida: uma passagem, não uma falha.

Assim como a menarca inaugura o ciclo fértil, a menopausa inicia outro: o ciclo da sabedoria e do recolhimento, quando a energia vital se volta mais para dentro.
O problema é que vivemos em uma cultura que exalta a juventude e teme o envelhecimento, mas a natureza não teme o tempo, ela o acompanha.
Quando chega o outono, a árvore não tenta segurar as folhas. Ela entende que é hora de mudar.

Querer ir contra a menopausa, ou acreditar que ela não deveria acontecer, é como brigar com as estações da vida. Assim como o outono chega naturalmente, o corpo também sabe o momento de mudar e cabe a nós aprender a escutá-lo com respeito, paciência e consciência.

A ciência contemporânea  confirma o que o Ayurveda ensina há milhares de anos que a menopausa é uma transição fisiológica, e não algo que precisa ser “corrigido”.

E os sintomas da menopausa?

Quando um exame mostra que um hormônio está “baixo”, o impulso imediato é repor, mas a pergunta mais honesta é: por que ele está baixo?

As ondas de calor, o cansaço, a irritação ou a insônia não são falhas, são sinais de que o corpo está pedindo algo diferente, talvez mais descanso, mudanças na alimentação, mais espaço para o silêncio, desaceleração…

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a menopausa é uma transição fisiológica natural, sendo marcada por flutuações hormonais e possíveis mudanças no sono, no humor e na energia, que podem afetar o bem-estar e a qualidade de vida.

Essas manifestações – conhecidas como sintomas vasomotores e emocionais – são a forma como o corpo comunica que algo está se reorganizando.
Por isso o foco não deve ser eliminar sintomas a qualquer custo, mas compreender o que eles estão expressando sobre o ritmo de vida, o estresse e a nutrição.No Ayurveda, essa fase é chamada de kala parivartana, o movimento natural do tempo.
Cada ciclo pede um novo ritmo, e saúde é saber acompanhá-lo, com presença.

O papel do Ayurveda na menopausa

O Ayurveda não “repõe” hormônios,  ele apoia o corpo para que se reorganize naturalmente.
Essa transição pede sustentação nos quatro pilares da saúde que são a base de todo equilíbrio do corpo, segundo o Ayurveda e a Medicina Integrativa (leia mais aqui):

Alimentação
Prefira alimentos frescos, sazonais e minimamente processados.
À noite, opte por refeições leves e de fácil digestão.
Evite o excesso de açúcar, álcool e frituras, que aumentam o calor interno e podem intensificar os sintomas da menopausa.

Sono
Dormir antes das 22h favorece o equilíbrio hormonal natural.
O sono adequado regula a melatonina e o cortisol, que são hormônios essenciais ao bem-estar físico e emocional.

Movimento
Atividades físicas regulares  estimulam a circulação, aliviam tensões e ajudam o corpo a liberar calor, mantendo a vitalidade.
O movimento é tão importante quanto o descanso e ambos sustentam a energia e a clareza mental.

Silêncio
O silêncio é o espaço onde o corpo e a mente se escutam.
Momentos de pausa, contemplação e respiração consciente ajudam o sistema nervoso a se reorganizar e reduzem a sensação de ansiedade, comum nessa fase.

Esses quatro pilares – alimentação, sono, movimento e silêncio – formam a base de uma vida saudável em qualquer fase.
Durante a menopausa, eles se tornam o terreno fértil para que o corpo encontre, por si só, um novo ponto de equilíbrio.

Quando a reposição hormonal é necessária

Existem casos em que a reposição hormonal faz sentido.
Quando há sofrimento real, sintomas que impedem o bem-estar, é preciso cuidar.
O Ayurveda não é contra a medicina moderna.
Pelo contrário.

Ele apenas convida a olhar além do sintoma, a entender por que o corpo está reagindo assim.
Mas se, mesmo com boas práticas de rotina, alimentação e apoio emocional, o desconforto continua, a intervenção medicamentosa pode ser necessária.
Nesses casos, a reposição deve ser prescrita e acompanhada por um médico de confiança, idealmente com uma visão integrativa.
O uso responsável de hormônios, nas doses certas e pelo tempo adequado, pode oferecer alívio e qualidade de vida.

A saúde é um equilíbrio dinâmico

A saúde não é um ponto fixo, ao contrário, a saúde é movimento.
Como quem caminha em uma corda bamba: você oscila, se ajusta e segue em frente.
O corpo não busca perfeição, busca equilíbrio.

O tempo do corpo não é esse tempo acelerado que vivemos hoje.
Ele precisa de pausas, de silêncio, de espaço para se reorganizar.
A pressa é uma forma de violência, especialmente quando aplicada ao próprio corpo.A menopausa é um convite para desacelerar, observar e confiar.
Para trocar o controle pela escuta, o medo pela presença.
A maioria das mulheres não precisa de reposição hormonal.
O que mais precisam é de reposição de amor próprio: um retorno gentil à sabedoria que o corpo sempre teve.

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Perguntas Frequentes

Este conteúdo tem caráter informativo e educacional e não substitui avaliação médica, nutricional ou ayurvédica individualizada. Nele não fazemos diagnóstico nem indicamos tratamentos para casos específicos. Se você apresenta sintomas persistentes, usa medicamentos, está grávida, amamentando ou tem condição crônica, procure acompanhamento profissional antes de mudanças na dieta, sono, exercícios ou uso de suplementos/fitoterápicos.