Essa resposta depende de quem está atrás da xícara. Ou seja pra tomar aquele cafezinho é importante saber quem você é e como se sente após consumir.
Por Matheus Macêdo
O café é um assunto que rende. Toda palestra que eu vou, as pessoas me perguntam sobre o café. E o que é curioso é que normalmente as pessoas que perguntam estão com medo da resposta.
A primeira coisa que é importante entender é que em nutrição, tudo é relativo e tem um custo de oportunidade. O café tem efeitos bons e outros ruins, como tudo na vida. Até a água se você errar na quantidade, você pode ter uma intoxicação por água e água mata também.
Então, não é que o café é ruim e água é bom, tudo tem um potencial. E você pode usar esse potencial, de acordo com o quê? Qual é o parâmetro que você tem que usar para determinar se aquela coisa é boa ou é ruim? O parâmetro de quem está consumindo aquela coisa.
Uau! Olha só, é bom ou é ruim pra quem?
https://www.youtube.com/watch?v=0X9BvxbFIsc
O café é uma substância que ele tem uma “ina” ali dentro, uma cafeína. Essa “inas”, as anfetaminas, por exemplo, elas vão dar mais energia pra pessoa. Qual é a questão do café?
A pessoa toma café, porque ela acordou de manhã, não dormiu direito, ela quer tomar um café pra começar o dia dela. Ela diz: não sou ninguém antes do meu café. Então, o problema do café nessa situação é que ele está escondendo a real razão pela qual você está tomando café.
Ele acaba servindo como uma barreira para você investigar a real razão pela qual você está tomando café, percebe? E isso pode acontecer com qualquer substância que está escondendo de você a possibilidade de entender o que está acontecendo aí dentro do seu corpo.
Toma café! Você vai se sentir menos cansada e um pouco mais elétrica. Agora, não deixa de se perguntar, porque você está cansada de manhã?
Você acorda da atividade que descansa, que é o sono, cansada, tem alguma coisa errada.
Tem alguma coisa errada com a quantidade de horas, tem alguma coisa errada com a qualidade do sono, tem alguma coisa errada com o que você comeu na noite anterior…tem alguma coisa errada!
Para pra pensar. Não deixa o café ser uma barreira contra o seu autoconhecimento, a sua observação, a presença.
Eu, por exemplo, tenho muita energia, se eu tomar um café, vou ficar um nível de agito que eu não quero, que não acho saudável pra mim. O meu padrão básico natural de energia, para mim é o suficiente. Eu não quero estar “mais”, que é outro problema muito comum na nossa sociedade. Hoje em dia a gente acha que mais é sempre melhor. Então é sempre mais.
Mais horas na academia, mais horas de trabalho, quanto mais ‘burnout’ melhor, né? Quanto mais destruído o corpo fica no final do dia, acaba sendo melhor, porque você está pensando com uma visão quantitativa.
Você acha que mais trabalho é melhor e não é! Você não precisa trabalhar mais para ser eficiente. De repente uma hora com eficiência você faz o que faria em seis horas. Volume não é igual a resultado.
Eu vejo isso bastante, pessoas que acham que tem que fazer mais e às vezes o café entra como um empurrãozinho pra você ir além da sua capacidade natural. Qual o problema que isso gera?
Você é uma pessoa que se sente ou se descreve como uma pessoa ansiosa? Uma pessoa um pouco mais agitada, que tem pensamentos repetitivos, que fica mais nervosa do que você acha que deveria ficar quando você ouve uma notícia negativa. Convido você a se perguntar isso.
Então, se você é alguma dessas coisas, pingar café nessa mistura vai fazer tudo isso ficar um pouco mais. Ele aumenta o agito de tudo isso que a gente acabou de falar. Então se uma pessoa é ansiosa e vai tomar café, vai ficar mais ansiosa.
E aí você vai no médico e fala: doutor estou ansiosa! Ele vai passar alguma coisa para você ficar mais calma. Só que aí você toma café com uma mão e um calmante com a outra. Um remédio pra acordar e outro pra dormir. Só que um te agita e outro te calma.
Por que você precisa dessa manipulação química constante? Percebe como isso te coloca num estado que é longe do seu natural? De repente o seu natural naquele dia é fazer tudo um pouco mais devagar. De repente você está cansado por causa de alguma coisa que aconteceu na sua família — seu filho acordou no meio da noite…
De repente você estava menstruada e precisa de um pouco mais de tempo para você. De repente está grávida. De repente você está passando por um momento um pouco mais difícil, um problema na família, alguma coisa no trabalho e você está precisando de mais tempo, você está precisando de mais paciência…
E aí a gente não se permite esse tempo. Não se permite essa paciência. E aí diz: vou tomar um café, porque eu tenho que aguentar! Eu tenho que fazer! Eu tenho que apresentar! E aí você acaba passando por cima da sua natureza, da sensação natural do seu corpo que você deveria ter feito aquilo um pouquinho mais devagar, percebe?
O café é uma substância, o café não é bom nem ruim.
O fogo não é bom, nem é ruim. Se você pega o fogo e controla ele, canaliza ele, você transforma ele numa fonte de calor para aquecer a sua comida, por exemplo, e para cozinhar.
Então, se você perguntar para uma cozinheira se fogo é bom ou ruim. Ela vai falar: É bom! O meu trabalho só existe graças ao fogo!
Se você perguntar para um bombeiro, se fogo é bom ou ruim, ele vai falar: fogo é o meu pior inimigo, de todos! O fogo não é bom, nem ruim. O fogo é aquilo que você bota ele pra fazer. Você coloca fogo na sua casa ou você cozinha o seu almoço.
Assim como o café, ele é só um instrumento, só uma ferramenta. E ele depende de quem está usando ele e como. Se você tomar dez cafezinhos por dia e você vira pra mim: estou muito agitada, estou muito ansiosa, muito nervosa e não sei o quê fazer. Fica meio claro.
A gente ouve: a internet está acabando com as pessoas! O Instagram está destruindo famílias, O Facebook deixa todo mundo mais.
O Facebook, o Instagram, o Youtube, o Whatsapp e os instrumentos só te dão a liberdade de se expor cada vez mais. Então, ele só bota para fora o que você que já era.
Você já é assim.
Porque o instrumento ele mostra quem é a pessoa por trás do instrumento, percebe?
Se você pegar um instrumento de corda e der na mão de um violonista ele vai fazer música com aquele instrumento. Então, um instrumento depende de quem está operando e como você está operando.
É o mesmo com o café. O café não é bom nem ruim. Ele tem malefícios? Tem. Tem benefícios? Tem. Se você comparar o café, por exemplo, com uma coca-cola, o café tem muito mais fitonutrientes que uma coca-cola. E aí você pode falar: ah eu achei no Pubmed aqui, um artigo que prova que o café também faz bem para a saúde! É claro que faz, é uma planta. É uma planta torrada e feita chá. É claro que tem fitonutrientes, antioxidantes…
Mas, em uma sociedade na qual a maioria das pessoas que eu vejo na clínica tem: depressão, ansiedade ou os dois ao mesmo tempo. Eu fico o tempo inteiro trazendo a atenção pra vocês, pra vocês olharem o que estão consumindo.
E o café é um grande participante dessa dinâmica de todo mundo. E olha como é interessante como as pessoas defendem os vícios delas. A pessoa fala tira qualquer coisa, mas não tira o meu café!
Se você tem algum desses, se você tem alguma dessas coisas: tira qualquer coisa, mas não mexe no meu brócolis…Eu só te peço: vá lá olhar porque esse brócolis está sendo defendido por você.
Você não deveria ter apego a nada, muito menos a brócolis. Então, se você está defendendo o brócolis, o café, ghee, arroz basmati, feijoada, toucinho, peito de peru, leite, suco verde, chá de gengibre, não importa! Aquilo que você está defendendo é um apego.
Por quê? Pra quê? Você é um bicho que nasceu livre e está aqui e tem a oportunidade de viver uma vida livre, uma vida plena. Pra que se prender a essas coisas?
Qual é a necessidade que você tem de criar problema pra você, de criar sarna pra se coçar?
Se normalmente, a vida é muito mais simples do que isso?
https://www.youtube.com/watch?v=SM456gPcuR0
Excelente‼️ Sem apegos, sem dependências…
Esse texto é muito profundo, vai muito além do café, das nossas manias e apegos.