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Himsa e Ahimsa – O que são esses conceitos filosóficos?

Começando a molhar os pezinhos no mundo do Yoga? Nesse artigo falarei sobre esses dois conceitos importantes, que podem transformar as nossas vidas.

E se você já pratica Yoga, certamente ouviu falar sobre ahimsa alguma vez, então vem se aprofundar um pouquinho mais, mergulhando em uma outra visão.

O que significa himsa?

A palavra himsa, da língua sânscrita, tem sua raiz gramatical em hims, que pode ser traduzido como “atacar”. Assim, himsa muitas vezes é definido como violência, injúria ou hostilidade.

Porém himsa não depende unicamente de atos. Nos meus estudos pude verificar que apenas a ausência de compaixão, pode demonstrar o aparecimento desse conceito.

Himsa pode mostrar-se com um pensamento que surge na mente e se manifesta como preconceito, por exemplo, levando-nos a tratar os outros com desprezo.

Em textos clássicos é dito que não é necessário agredir física ou psicologicamente o outro para ser considerado himsa. As vias de fato já seriam um tipo de violência mais escancarada e não é somente disso que falamos aqui.

Por isso acredita-se que nossos pensamentos negativos sobre nós mesmos e sobre os outros podem ser tão poderosos e prejudiciais quanto essas tentativas físicas de machucar, demonstradas quando alguém se deixa levar pela raiva repentina.

Se pararmos para analisar, existem atitudes que muitas vezes magoam mais do que a agressão propriamente dita. Acredito que todos nós, já passamos por alguma coisa assim algum dia.

Existem muitas formas de himsa, incluindo desdém ou frieza pelos outros, aversão, antipatia irracional, discurso áspero e rude, ignorância, mentiras e fofocas.

Alguns registros e mestres dizem que a paixão exacerbada por algo, é a causa motriz que leva a himsa.

Essa paixão exacerbada, nada mais é do que um grande apego, uma grande identificação com determinado objeto. Essa intensa identificação, nos gera impulsos, muitas das vezes fazendo com que as coisas aconteçam, sem nem mesmo pensarmos bem.

Afinal, quantas vezes nos arrependemos da maneira que agimos em determinada situação?

Efeito manada

O julgamento, por exemplo, é um apego grande à determinada crença. 

Quando julgamos o outro sem nem mesmo conhecê-lo, de uma forma precipitada, estamos apegados a um estereótipo que definimos internamente ou a algum tipo de incômodo que aquela pessoa nos faz sentir e precisamos observar em nós mesmos. Ou ainda mais, podemos estar apegados à opinião de outrem sobre aquele que julgamos. Dentre outras infinitas opções.

Me explico bem? Vou pegar o exemplo de seguir cegamente o pensamento dos outros. Às vezes, em um grupo qualquer que participamos, é visível o quanto as pessoas “se deixam levar” pelas opiniões alheias.

Geralmente aquele que “grita” mais alto, causando comoção nas outras pessoas, com a segurança de quem tem 100% de razão, é seguido por um bando. Esse bando, na maioria das vezes, está meio perdido e precisa se sentir pertencente. 

Isso é perigoso.

A famosa teoria do efeito manada, conhece? Aquela tendência do ser humano de seguir outras pessoas em qualquer tipo de opinião ou decisão. 

Se prestarmos atenção, a gente percebe essa atitude de “seguir” o tempo todo. Na moda, na gastronomia, na medicina, no jornalismo, no mundo coorporativo, na vizinhança, nos cursos que fazemos… Pare para reparar.

Uma vez li algo muito interessante sobre isso. Alguém que não me recordo o nome agora, citou um exemplo muito simples para elucidar essa teoria. 

O quanto é comum escolhermos um restaurante em algum local desconhecido, apenas por ele ter mais mesas ocupadas e o estabelecimento ao lado estar mais vazio.

Não é verdade? Da próxima vez que estiver viajando para um lugar onde nunca foi, repare nisso.

Quem disse que o restaurante menos habitado não pode ter uma comida infinitamente melhor do que aquele lotado?

Eu mesma, (e acredito que você também) já conheci lugares incríveis, com comidas espetaculares feitas com o coração, que tinham aquilo que chamo de alma e que fecharam pelo simples fato de faltar movimento. 

Cientes desse efeito, o melhor que podemos fazer é realmente colocar luz sobre qualquer acontecimento nas nossas vidas e parar para analisar.

Estou simplesmente seguindo o grupo, ou realmente penso assim? Será que não estou com preguiça de pensar por mim mesmo? E se de repente estou sendo injusto ou exagerado nessa situação? Quero isso de verdade ou só quero porque os outros têm?

Himsa e o apego

Esse furor por algo, como comentei anteriormente, pode ser analisado por diversas óticas. Veja: a paixão por manter-se no poder, por ser o centro das atenções, pelas posses e pelo dinheiro, pelo próprio ego, a paixão que surge do apego a determinado “objeto” (aqui leia objeto como qualquer coisa/pessoa/ideia).

Lembra que falamos em outro artigo meu, sobre os venenos da mente, os kleshas? Se não leu ainda, corre lá que vale a pena: Kleshas – as cinco aflições da mente humana

Esse apego é um dos venenos que comentei nesse artigo do link acima e que nos geram sofrimento, atrapalhando o fluxo natural da nossa existência.

E essas identificações, seguramente fazem brotar essa violência, mesmo que de maneira sutil.

Na tradição acredita-se que himsa é uma maneira de encarar as coisas sempre de forma prejudicial: tanto para os outros, quanto para nós mesmos.

Também há registros que dizem ser um grande impedimento para a nossa evolução espiritual aqui na Terra.

“Se você puder entender que todos cometemos erros, você poderá perdoar a si mesmo e aos outros, naturalmente”.

Ajahn Chan – Monge budista
A filosofia do yoga

Quando entramos nesse caminho filosófico do Yoga realmente de mente e coração abertos, passamos a perceber que, ao ferir o outro, prejudicamos o nosso próprio ser.

Afinal, percebemos que o outro é uma extensão nossa e que quase sempre, as coisas não precisam ser levadas tão a sério assim, a ponto de não conseguirmos enxergar a visão do colega ao lado.

Existem duas maneiras de nos posicionarmos diante de determinada situação. De maneira agressiva, ou de maneira amorosa.

O que às vezes não percebemos, é que de maneira agressiva, combativa e até ofensiva, geralmente não teremos resultados positivos. Mesmo assim, seguimos insistindo nessa abordagem. E se as coisas não são exatamente da maneira que queremos, aí então o problema fica ainda maior. Parece que nos tornamos cegos, querendo vingança.

Há momentos em que só falta empatia, compreensão e polidez, em muitas das nossas relações. Mas o que acontece é que, em algumas ocasiões, quando existe uma pessoa que não segue essa manada, a tendência é que rapidamente vire a inimiga, a excluída, sem ninguém pestanejar.

É difícil escutar uma opinião contrária à nossa e perceber que é apenas uma opinião, apenas um ponto de vista diferente daquele que temos e ainda manter aquela amizade, aquele contato.

É mais ou menos assim: “Se não faz parte do meu time, não vale nada”. 

Acredito eu que, uma opinião diferente deveria gerar interesse e contentamento. Afinal, a nossa própria opinião já temos e já sabemos.

Só que essas divergências, com frequência geram conflitos. E assim, ocasionalmente não evoluímos, não saímos daquela zona de conforto.

Então que tal exercitarmos enxergar as coisas por um outro ângulo? É sempre muito bom, várias vezes na vida, somos quadrados demais.

Como lidar com himsa?

O que vemos em alguns clássicos é: mesmo sob a maior provocação, ainda devemos nos abster de cultivar maus pensamentos, abrigar raiva e proferir palavras desagradáveis.

Tarefa difícil, certamente. Mas é possível. Da mesma maneira que é indicado que levemos a nossa mente para o lado oposto quando temos um pensamento negativo, assim que surge uma situação desagradável com alguém, podemos levar a mente para um lugar de mais compaixão diante desse outro ser humano. 

Pois como diz a frase do Monge budista que citei acima, todos nós erramos. Ou seja, todos temos defeitos, nos embananamos com as palavras, mudamos de opinião, temos que pedir perdão.

Uma coisa é certa, estamos aqui buscando a felicidade. Ninguém acorda num dia e diz:

— Ah! Hoje serei extremamente infeliz, vou xingar todo mundo, brigar com a vizinhança, bater o carro… Concorda? 

E afinal, do que se trata ahimsa?

“Ahimsa, a não-violência, é o dharma mais elevado, a virtude mais elevada”. 

Essa citação é encontrada diversas vezes no Mahabharata, o poema épico mais longo conhecido.

Ahiṃsā paramo dharmastathāhiṃsā paro damaḥ |

Mahabharata 13.117.37

Acima apenas uma parte do verso, que fala também sobre dharma e himsa, mas aí é assunto longo que daria outro artigo.

Dito isso, praticar ahimsa envolve trazer atenção plena ao falar, agir e pensar, o que é uma grande virtude, realmente.

Ahimsa de igual maneira é citado no capítulo dois dos Yoga Sutras de Patañjali, como um dos cinco yamas, os princípios éticos e morais para uma vida mais tranquila, veja a seguir:

Ahiṁsā – não violência

Satyaverdade, aquilo que é correto

Asteyanão apropriação

Brahmacaryaconduta coerente com a natureza, com o divino

Aparigrahanão avareza ou também desapego Ahimsa refere-se à não violência física, bem como à não violência de pensamentos e palavras. O oposto de himsa, sobre o qual discorri bastante acima.

Praticando ahimsa

Finalmente, ahimsa é algo que se cultiva e se desenvolve, ao longo da vida. É um caminho onde podemos encontrar certa resistência a seguir e alguma tristeza quando nos deparamos reagindo de uma maneira que não gostaríamos.

Mas também é um caminho de crescimento, observação, felicidade, calma e paz.

Quando nos livramos das cargas mentais e físicas que certas atitudes podem nos trazer, a vida fica mais leve.

O exercício é buscarmos praticar essa não violência em todas as áreas da nossa vida.

Na nossa alimentação, no cuidado com a natureza e com os animais, nas relações com as outras pessoas e na nossa relação com nós mesmos.

Aos pouquinhos, tijolinho em cima de tijolinho, vamos nos tornando pessoas melhores, mais fáceis de conviver, mais plenas e mais conscientes.

Conta pra mim, o que te tira do sério, que por vezes te faz agir com certa violência?

E de que maneiras você se percebe praticando ahimsa?

Até o próximo artigo!

Grande abraço e nos vemos pela jornada!

1 comentário em “Himsa e Ahimsa – O que são esses conceitos filosóficos?”

  1. Avatar

    Amei o artigo, já prático yoga e estou bem feliz por conhecer cada vez sobre o yoga, alimentação natural, práticas e cursos que proporcionam…gratidão Matheus e toda equipe:)

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