Mulheres Cíclicas e os Tempos de Travessia

Como as práticas integrativas e criativas podem nos ajudar a lidar com as mudanças

Por Clarice Dumar, voluntária do Vida Veda

“Eu sou um monte de constelações

brilhando e ardendo mas 

nem todo mundo sabe ver

ou só vê a parte que arde

ou só vê a parte que brilha.” *

Nascimento, menarca, maternidade, transição de gênero, menopausa, separação, perda…

Viver é estar em constante mutação, porém há momentos que nos marcam mais, que determinam o início de uma nova etapa, e isso não é simples. Todas essas fases nos exigem coragem, desapego, processo de luto, aposta no desconhecido e, sobretudo, uma grande força interior.

Para nós, mulheres, existem ainda algumas particularidades. Apesar de todos sentirmos o peso social do etarismo e passarmos pelo processo de envelhecimento e morte, o fluxo da vida tem maior peso e cobrança sobre a mulher. 

Condicionadas ao padrão de beleza e a um prazo de validade cultural, passamos não somente pelos processos naturais do desapego, mas também por um enorme preconceito, fruto de uma sociedade que nos ensinou que temos nosso valor diretamente ligado à reprodução e à beleza jovial. Envelhecer bem consigo, para nós mulheres, é um ato de amor revolucionário, transcendente e libertador.

(Créditos: Freepik)

E não são só as etapas do amadurecimento que nos fazem passar pela sensação de morte e renascimento: o processo de autoconhecimento na identidade de gênero, a decisão de sair de um relacionamento abusivo quando você se sente ainda frágil e devastada; a morte de um ente querido; a passagem por uma doença que te faz mudar toda uma perspectiva de vida; uma mudança carreira, de país… Vida é movimento.

Sabemos que é difícil, mas também sabemos que a superação liberta, que o amor próprio acolhe, e o autoconhecimento direciona para nossa melhor versão.

E, aliada a você nesta jornada, existe uma série de práticas integrativas e criativas para te ajudar a passar por isso com mais clareza e acolhimento. Conheça algumas destas práticas e lembre-se: você não precisa passar por isto sozinha.

Ginecologia Natural: A ginecologia natural vem chamando cada vez mais a atenção das mulheres, pois se alinha à nossa necessidade de autonomia, autoconhecimento, respeito e amor à nossa natureza.

Propõe um olhar mais holístico e integrado sobre a saúde feminina, levando em consideração nosso estado emocional e a reconexão com nós mesmas como parte fundamental para o caminho de cura.

Ensina-nos a entender melhor nosso ciclo, nosso corpo, nos tirando do lugar de meras espectadoras dos processos que envolvem nossa saúde.

A sessão com a ginecologista também é um lugar de escuta, tanto para elas, quanto para nós, pacientes (aprender a se ouvir e a ler os sinais do corpo). As práticas resgatam nossa ligação com nossa ancestralidade, usando como ferramenta métodos com os quais fomos perdendo o contato como o banho de assento e a vaporização do útero, entre outros.

Muitas facilitadoras da ginecologia natural promovem encontros entre mulheres para passar este aprendizado e promover a conexão, pois apesar autoconhecimento ser um caminho individual, a troca com o coletivo muitas vezes nos ajuda a lidar com nossos próprios conflitos e ciclos, formando uma egrégora fortalecedora em nossas travessias.

Mas uma coisa é importante frisar: a ginecologia natural não exclui a ginecologia moderna, os dois aprendizados se somam para uma melhor saúde da mulher.

EMDR: EMDR (Dessensibilização e reprocessamento por meio dos movimentos oculares) é uma terapia de reprocessamento cerebral para tratamento de traumas emocionais, desenvolvida pela Dra. Francine Shapiro no final do anos 80, na Califórnia.

Na prática a terapia funciona como uma espécie de “ginástica cerebral” através de movimentos oculares que permitem a estimulação dos hemisférios cerebrais onde as lembranças dolorosas são armazenadas. Com isso, o cérebro faz o reprocessamento do trauma trabalhado, perde-se a carga negativa associada ao evento, e, muitas vezes, se recuperam lembranças positivas vinculadas àquela situação..

O EMDR tem sua eficácia reconhecida pela OMS e é um dos métodos terapêuticos mais pesquisados dos EUA, com recomendação especial da American Psychiatric Association (EUA) e da Royal College of Psychiatrists (UK).

A psicóloga Silvia Malamud, uma das grandes propagadoras deste método no Brasil, autora do livro Sequestradores de Almas, sobre relacionamentos abusivos, diz em seu site: O EMDR é a possibilidade de cura emocional para qualquer situação em que possamos estar envolvidos. Uma revolução palpável nos nossos aspectos de consciência e nas reais possibilidades de existirmos no nosso melhor.

Terapia Floral: O sistema de terapia com florais foi criado pelo Dr. Edward Bach por volta de 1934/36 e até hoje é o sistema mais conhecido, contando com 38 variedades de florais.

Essas essências estimulam as qualidades emocionais curativas a serem desenvolvidas em nós, e a terapia consiste em tomar algumas gotinhas, da essência diluída em água e brandy, algumas vezes ao dia (geralmente indicam 4 gotas de 3 a 4 vezes ao dia). Para quem não pode consumir álcool, também há a opção de fazer a fórmula sem o brandy, o que muda é o tempo de conservação da fórmula.

De lá para cá, outros pesquisadores desenvolveram seus próprios sistemas de florais, como Florais da Califórnia, Bush Australiano, Florais de Saint Germain e os Florais Filhas de Gaia, sendo estes dois últimos desenvolvidos no Brasil.

Uma das coisas interessantes desta terapia é que o próprio Dr. Bach frisa a importância da simplicidade para a utilização deste sistema, abrindo assim um espaço de autonomia para que não só novos sistemas pudessem ser criados por estudiosos, como também as pessoas interessadas na cura e no autoconhecimento pudessem aprender como funciona e escolher a melhor(es) essência para o seu estado emocional.

Claro que todo trabalho acompanhado por um terapeuta abrange uma série de benefícios, mas caso isso não seja possível, também é muito bacana sentirmos essa liberdade da auto cura, não é mesmo?

(Créditos: Vero Photoart/ Unsplash)

Algumas essências florais se encaixam perfeitamente para estes períodos de transição de que falamos acima. Veja alguns exemplos:

Wild Oat (Bach) — nos ajuda a encontrar um direcionamento quando nos sentimos à deriva. Alguns terapeutas costumam dizer que esse floral age como uma bússola. Muito bom para quando estamos em busca da nossa vocação, por exemplo.

Bottlebrush (Bush Australiano) — É o floral que nos ajuda a seguir em frente, aliviando o peso que as grandes mudanças promovem. Indicado para aqueles momentos de transição de vida como menopausa, maternidade e proximidade com a morte.

Calla Lily (Califórnia) — Este floral ajuda a trazer clareza para sensação de ambivalência quanto à identidade sexual ou de gênero. Também é indicado para o sofrimento interno devido aos preconceitos culturais

Escrita Curativa: Se você é daquelas pessoas cujo estado emocional se eleva por meio da arte, talvez a Escrita Curativa seja um bom caminho para você.

Criado por Geruza Zelnys, escritora, pesquisadora, professora e crítica literária, a Escrita Curativa promove encontros de criação literária que, a partir da consciência do potencial criativo da dor, estimulam a criatividade nublada por traumas e afetos memorizados no corpo físico/emocional, lapidando-a pelo processo de recriação do corpus artístico.

Como podem ver, existe uma grande variedade de métodos, busque o que mais sentir afinidade, esses foram só alguns exemplos.

Vá com coragem, tire as camadas que te impedem de desabrochar, ou os apegos que sopram sua felicidade para longe. Boa travessia!

*Poeta Ryane Leão, livro Tudo Nela Brilha e Queima.

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